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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15242: Inquérito "on line" (6): Spínola... e os outros Com-Chefes, antes e depois... (Comentários de Ferreira Neto, José Martins e Beja Santos)



Guiné > Brá, Outubro de 1965 > Governador-Geral e Com-Chefe, general Schultz, o Comandante Militar e o Capitão Nuno Rubim (atrás) recebendo honras militares dos comandos do CTIG em parada. Com o regresso a Portugal do Capitão Rubim, em Fevereiro 1966 ficou a comandar a Companhia de Comandos o Capitão de Artilharia José Eduardo Martinho Garcia Leandro, que até à data estava a comandar a Companhia 640, estacionada em Sangonhá.

Foto (e legenda) : © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados

 
Recorte de jornal (talvez de O Século), enviado pelo nosso camarada Joaquim Lúcio Ferreira Neto. Arnaldo Schulz entre outros cargos foi Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa; na imagem parece ser o primeiro, a contar da direita,  não sabemos em que qualidade é que estava aqui, mais provavelmente como diretor do centro da milícia da MP; os  subsecretários de estado do exército, da aeronáutica e do educação nacional estavam à civil... De 1950 a 1956, o subsecretário de estado do exército era o Horácio Sá Viana Rebelo (1910-1995...  

Três anos depois, em 27 de Novembro de 1958, com o posto de tenente-coronel, Arnaldo Schulz será nomeado ministro do interior, cargo que exerce até 1961. Como brigadeiro, já em 1963, tem uma curta passagem por Angola, antes de ser nomeado, em maio de 1964 governador da Guiné Portuguesa e comandante-chefe, em substituição do comandante Vasco Rodrigues e do brigadeiro Fernando Louro de Sousa. É o primeiro a acumular estes dois cargos.

De referir ainda que, como jovem tenente, com 28 anos, Schulz fez parte da Missão Militar Portuguesa de Observação à Guerra Civila Espanhola, de junho a novembro de 1938, conforme consta do seu processo individual no Arquivo Históprico-Militar. Tal como Spínola, que nasceu no mesmo ano do Schulz (1910), também estaria, três anos depois,  em 1941, na frente russa,  como observador das movimentações da Wehrmacht, no início do cerco a Leninegrado. Dizia-se que era germanófilo, como muitos oficiais do exército português da época. E foi daí que lhe terá vindo o gosto pelo monóculo... Na Guiné, sempre lhe chamei Herr Spínola... (LG)


1. Mais 3 comentários sobre os homens que, do lado português.  comandaram os destinos da Guiné, antes da independência (*):

Joaquim Lúcio Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]

Embora tivesse como comandantes os Generais Arnaldo Schulz e António de Spínola, só tive oportunidade de falar com António de Spínola, por duas vezes.

Quanto a Arnaldo Schulz, conheci-o em 1955, nas circunstâncias que figuram na fotografia publicada nos jornais, das quais envio uma cópia [, quando ele, juntamente subsecretário de Estado do Exército, da Aeronáutrica e da Educação,  passou revista à formatura antes do juramento de bandeira dos cadetes do 2º curso de preparação militar no XII Acampamento Nacional da Milícia da Mocidade Portuguesa, na Carregfueira]. Eu fazia parte desse grupo.


José Martins [ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,  Canjadude, 1968/70]

Vasco António Martínez Rodrigues, Governador sem responsabilidades militares, entre 1962 e 1964, apenas "apanhou" o inicio e dois anos de guerra.

Arnaldo Schulz, Governador e Comandante Chefe, foi transferido de um Comando de Agrupamento em Angola, onde era Coronel (tirocinado). Foi para a Guiné, em 1964,  numa altura em que o efectivo ainda não se aproximava do que veio a ser, poucos anos depois. Consta que se dava melhor com o "alcatrão" do que com a "mata".

António Sebastião Ribeiro de Spínola, Governador e Comandante Chefe (1968-1973)  chegou e "mexeu e remexeu o xadrez da Guiné". Foi o homem escolhido do Marcelo Caetano, pelo que "pode tirar partido" da situação. Aumentou o efectivo e a actividade operacional. Foi o que mais tempo esteve á frente dos destinos da província, e quando o número de militares por metro quadrado atingiu o máximo de sempre. Foi o que criou mais instabilidade ao IN.

José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues, Governador e Comandante Chefe (1973-1974)  sucede a um militar que já tinha firmado as suas credenciais, não só na Guiné mas também na metrópole, pelas "dores de cabeça" provocadas pelas suas viagens frequentes a Lisboa, para falar com Marcelo Caetano e pelos ultimatos que fazia, até que apresentou a demissão e foi necessário criar um "impedimento" para o manter no "arco do poder": a Vice Chefia do EMGFA, único a ocupar esse cargo. Caiu-lhe em cima a Declaração da Independência, assim como o 25 Abril e o Golpe dos MFA/Guiné.

Mais importante para os militares naturais da Guiné do que para os europeus, ainda houve dois Governadores e Comandantes Chefe:

Mateus da Silva e São Gouveia, militares portugueses que, após a prisão do governador Bettencourt Rodrigues, no Forte da Amura, em Bissau, entre o dia 27 de Abril e o dia 7 de Maio de 1974, estiveram na governação interina da Guiné, até á chegada de Carlos Alberto Idães Soares Fabião, Ultimo Governador.

Fui fazer o levantamento de efectivos operacionais "presentes" no TO da Guiné, e constantes dos "5,517 - Os últimos anos da Guerra na Guiné Portuguesa" (***). para tentar "explicar" as preferências indicadas pelos camarigos.

Vejamos oe efectivos:

Governo de Vasco António Martínez Rodrigues

8 de Agosto 1962 - 2.817
8 de Setembro de 1963 - 4.118
8 de Novembro de 1963 - 6.005

Governo de Arnaldo Schulz

23 de Dezembro de 1966 - 18.920

Governo de António de Spinola

4 de Setembro de 1968 - 20.580
4 de Dezembro de 1968 - 20.488
3 de Agosto de 1969 - 24.425
2 de Agosto de 1970 - 23.196

Governo de José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues

7 de Setembro de 1973 - 23.471


Mário Beja Santos [, ex-alf mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70]

Meu caro Luís,

Gabo-te a oportunidade do desafio (*).

Quando estava a ultimar “História(s) da Guiné Portuguesa” de que em breve darei notícias, logo que saiba a data do lançamento, deparei-me com esta lacuna fundamental da guerra da Guiné: o período de 1968-1974 está fartamente documentado, creio que em nenhuma frente de guerra haverá tanta documentação como desse período, respeitante ao carismático Spínola que tudo fez para que a sua encenação política pudesse ser vista lá como cá; ora a governação Schulz, tanto quanto sei, não tem livros, teses de doutoramento ou documentos aparentados, fala-se por alto que Schulz investiu de 1964 até 1968 a fundo na quadrícula e no uso das operações com tropas especiais. O resto é neblina.

Esta situação é prejudicial ao entendimento dos factos sequenciais entre 1962 e 1974. Nomeia-se Schulz e aconteceu o quê? A dar credibilidade ao que escreveram homens como Carlos Fabião, Schulz é um homem cansado e doente, em Fevereiro de 1968. André Gomes e um pequeno grupo flagelaram Bissalanca, o que teve repercussões em toda a cidade e no moral das tropas ali acantonadas, e fora delas.

Ainda não sabemos se este homem foi um puro joguete da História, atirou-se à missão com os seus conhecimentos de Estado-Maior e terá feito aquilo que era possível fazer com os recursos, efetivos e armamentos que Lisboa lhe fornecia, ou se entrou numa rotina perigosa, isto enquanto o PAIGC acumulava meios, prestígio e posições?

Talvez a chave da questão esteja no Arquivo Histórico-Militar, mas era muitíssimo importante que quem sabe da poda, aqui no blogue, desse o litro, contasse a verdade, tal como a viveu ou experienciou.

Estarei atento, também eu preciso de juntar peças, as que temos não são satisfatórias. (**)
______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2015 >9 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15227: Inquérito "on line" (4): "Dos 3 últimos com-chefes do CTIG, aquele de que tenho melhor opinião é... Arnaldo Schulz (1964/68), António de Spínola (1968/73) ou Bettencourt Rodrigues (1973/74) ?... Resposta até 5ª feira, dia 15, às 15h30

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11611: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (53): Respostas (nºs 116/117/118): Ferreira Neto (CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69); João Lourenço (PINT 9288, Cufar, 1972/74) e Jorge Coutinho (CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974)

Resposta nº 116 > [Joaquim Lúcio] Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]


(1) Quando é que descobriste o blogue ? Agosto 2007

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) Pesquisa no Google
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Sim, desde 14 de agosto de 2007
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...). De tempos a tempos.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Mandei enquanto foi oportuno.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não. Detesto tal coisa.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Respondido.
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Tudo o que foi dito de uma forma simples.
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? Conversa balofa.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? Bastante. Foi numa óptima ideia.
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Penso que sim, enquanto houver disposição e força anímica dos guerreiros.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. Nada a acrescentar. Tive muito gosto em satisfazer o pedido. Felicito o trabalho dos responsáveis. Bem hajam.

Resposta nº 117 > João [José] Lourenço [, ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]
Bom dia,  meu caro Luís, as minhas desculpas por não ter respondido mais cedo mas eu e a internet não somos os “maiores amigos”... Vou ser o mais sucinto possível:

1) Maio 2009

2) Pesquisa no Google feita por uma filha

3) Acho que sou membro… [, desde 19 de maio de 2009]

4) Tempos a tempos mas está nos favoritos para eu encontrar…

5) Não sei como…..

6) Redes sociais não são a “minha praia”…

7) Nem por isso….

8) Saber novidades, de antigos companheiros e foi giro reencontrar o Franco e o [António Graça de ] Abreu, por exemplo.

9) Sem opinião especifica…

10) Não me apercebi.

11) O blogue foi uma grata descoberta de boas recordações de tempos não tão bons…

12) Já fui a um ou dois, o da Ortigosa (excelente) e um ou dois no Hotel de Monte Real.

13) Não me vai ser possível, por razões familiares.

14) Acho que deve continuar para não quebrar a corrente, mas percebo que é uma tarefa complicada, pelo amor à causa que têm dedicado, bem hajam.

15) No comments.


Resposta nº 118 > Jorge Coutinho [, ex-alf mil op esp/ranger, CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974]

Olá, amigos! Fui entronizado no blogue através do camarada e amigo Ranger Magalhães Ribeiro. (1/2). [Sou membro da Tabanca Grande desde 21 de abril de 2011] (3)
De tempos a tempos dou uma voltinha por este, mas com mais assiduidade visito o Blogue MR (4).
Não uso Facebook (6/7).
Creio que o trabalho desenvolvido por vocês é ótimo, e devem continuar, pois, embora eu não seja participante ativo, gosto sempre de ver o empenho e dedicação; é certo que tudo isto funciona altruisticamente, o que é de louvar (11).

Realmente não poderei estar presente no convívio, mas espero que tudo decorra em ambiente saudável, seja profícuo, e reine o entendimento (12/13). Um abraço para todos, e obrigado!

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5884: O Nosso Livro de Visitas (83A): José Henriques, ex-Fur Mil da CART 2340

José Henriques (ex-Fur Mil da CART 2340) deixou, no dia 22 de Fevereiro de 2010, este comentário no poste 5819*:

Caro Camarada Luis.
Fiz parte da CART 2340 que esteve na Guiné de 1968769 e de que era Comandante o Camarada Joaquim Lúcio Ferreira Neto**.

Sempre que os meus afazeres o permitem, venho ao v/blog ler ( e relembrar)os tempos passados na Guiné como combatente. Foram bons? alguns... Foram maus? Já passaram...

Mas o que me traz aqui agora é o seguinte: indica-me por favor como devo proceder para poder a ter a honra de passar a ser membro da vossa tertúlia.

Um forte abraço para todos os "tertulianos" do ex-Fur Mil
José Henriques


Comentário de CV

Caro José Henriques, foi pena não teres deixado o teu endereço para te podermos contactar.

Assim, se leres este poste ficarás a saber como aderires à nossa Tabanca Grande para poderes contar as tuas histórias enquanto combatente na Guiné.

Referes o teu Comandante, ex-Cap Mil Ferreira Neto, que eu conheço do meu tempo de aluno da Escola Secundária e ele professor.

O professor Neto, como faço questão de o tratar, tem alguns postes e fotografias da vossa CART publicados no Blogue que poderás facilmente encontrar através do marcador "CART 2340".

Voltando a ti, claro que estamos desde já à tua espera. Manda-nos uma foto antiga e outra actual (tipo passe em formato JPEG) uma pequena (ou grande) história relacionada contigo ou com a CART 2340, e a acompanhar fotografias (com legendas) para a ilustrar.

No lado esquerdo da nossa página encontarás os nossos 10+10 mandamentos, bastante fáceis de cumprir. Se os leres ficarás a saber como nos conduzimos e os nossos objectivos enquanto tertulianos.

Deverás enviar os teus trabalhos para o endereço oficial do Blogue luis.graca.prof@gmail.com.

Entretanto, recebe um abraço da tertúlia.
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5819: O 6º aniversário do nosso Blogue (3): No início de Maio de 2006, tínhamos 100 tertulianos, 735 postes publicados e 3 mil páginas visitadas por mês (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 14 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Apresenta-se Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5757: O Nosso Livro de Visitas (82): "Projecto de Documentário sobre Bafatá" (Silas Tiny)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3594: Fotos actuais da Guiné-Bissau (José da Rocha Sousa/Ferreira Neto)

1. Fotos tiradas por José da Rocha Sousa, ex-Soldado da CART 2340, aquando da visita à Guiné-Bissau em Novembro de 2004.

Estas fotos foram enviadas pelo camarada Sousa ao nosso tertuliano Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, que por sua vez as enviou ao Blogue.

O nosso obrigado a ambos.


Jumbembem > Abrigo

Canjambari > Casa Comando

Jumbembem > Casa Comando

Jumbembem > Actual Escola

O meu faxina

Jumbembem > Padaria

Jumbembem > Poço da água

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3484: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (6): Relatório de treino operacional

1. Mensagem do nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 15 de Novembro de 2008:

Caro Vinhal:
Continuando a rebuscar as minhas coisas, eis que topo o meu relatório de 17 de Dezembro de 1967, referente ao treino operacional antes da partida para a Guiné.
Cumprimentos generalizados
F. Neto


RELATÓRIO

1. Especialidade da Escola de Recrutas

1 - Deficiências notadas

1.1 - Má preparação dos recrutas apresentados para frequentar a parte da especialidade. Esta má preparação da parte geral notou-se até na simples marcha e ordem unida, factores estes que indicam a falta de disciplina.

1.2 - A instrução da especialidade não pode ser dada em boas condições, pelo facto de não haver instalações adequadas no quartel, mormente nas primeiras semanas em que houve sobreposição com o batalhão da escola anterior. Por este motivo o pessoal só pode dispor de armamento e das instalações, depois da partida do pessoal do batalhão.

1.3 - Houve prejuízo na instrução motivada pela festa de despedida do pessoal do batalhão.

1.4 - A falta de locais apropriados para a instrução, principalmente no que se refere a parte da táctica, foi compensada embora tardiamente nas duas últimas semanas, pelo facto de passar a ser ministrada no campo, fora do quartel.

1.5 - A falta do armamento (metralhadoras, lança-granadas, morteiros), motivou perturbações na instrução, que se resolveu, alterando os horários de instrução das companhias, de forma a todas se poderem servir do armamento disponível.

2 - Instrução de aperfeiçoamento operacional – IAO

Após a semana de preparação com vista à deslocação para o campo onde se fariam os exercícios, e em que se fez o tiro na pista de combate, deslocou-se a companhia para a zona de estacionamento a cerca de 10km do quartel. Foram postos à disposição da companhia os seguintes materiais: Material de acampamento que foi suficiente, cozinha rodada, rádios, munições, viaturas e explosivos. As deficiências foram notórias, mormente no que respeita:

2.1 - Viaturas
3 GMC sem cobertura, uma das quais funcionando em más condições. A viatura para reconhecimento não esteve totalmente à disposição da companhia o que motivou que não se pudessem fazer a maior parte dos reconhecimentos para os exercícios. Não foi fornecido um autotanque para a companhia, sendo o abastecimento de água durante a maior parte do tempo feito por uma só viatura para as três companhias. No entanto o abastecimento foi bem planeado ao ponto de não se fazer sentir a falta de água.

2.2 – Armamento
A parte de armamento pesado (lança granadas, morteiros, metralhadoras, etc.) não foi fornecida, sendo as razões alegadas a sua possível deterioração durante os exercícios. Todos os soldados foram armados de espingarda Mauser, tendo os graduados espingarda automática G3.

2.3 – Munições
Foram recebidas instruções para evitar ao máximo o seu consumo.

2.2 – Explosivos
Foram fornecidos em quantidade razoável.

2.3 – Rádios
Foram fornecidos três rádios, um THC, um NA/PRC e um outro de tipo desconhecido para os operadores.
É certo que todos eles podiam fazer a ligação entre si, mas até uma distância não superior a 2km.
Por este motivo não foi possível tirar rendimento dos exercícios mormente na parte de ligação, como também não foi possível manter o aquartelamento (PC) informado acerca das operações efectuadas pelos pelotões empenhados nos exercícios.
Todos os exercícios foram planeados de véspera, bem como criticados após a sua execução.

No dia 27, fez-se o deslocamento para a zona de estacionamento n.º 1, a 10km do quartel, fez-se a instalação e montagem do dispositivo de segurança. Durante a instalação houve flagelação ao acampamento, tendo o pessoal actuado em conformidade. Durante a refeição houve novos ataques.

Dia 28, deslocamento de dois pelotões para o contacto com o inimigo e o consequente ataque.

Dia 29, montou-se uma série de emboscadas, tendo duas delas funcionado, a 1.ª com êxito, uma segunda foi um fracasso devido à má posição das forças empenhadas. Neste mesmo dia, dois pelotões fizeram o patrulhamento de itinerários, dentro da zona de acção da companhia.

Dia 30, foram efectuados dois golpes de mão distintos, o pessoal empenhado nas acções foram dois pelotões, tendo duas secções de um terceiro pelotão simbolizado o inimigo.
Neste mesmo dia iniciou-se a nomadização à base de dois pelotões, esta nomadização prolongou-se até ao dia seguinte. Este exercício não teve um carácter real, uma vez que devido a dificuldades logísticas não foi possível deslocar a cozinha rodada a fim de alimentar o pessoal empenhado na acção. Desta forma o pessoal às horas da refeição regressava ao acampamento, sendo o exercício neutralizado durante este período. Se houvesse rações de combate distribuídas, seria possível tirar maior rendimento do exercício.

Dia 2 de Dezembro, organizou-se a protecção de pontos sensíveis, sendo o ponto escolhido a fábrica de pimentão, próxima da estação de Torres Novas. Foi talvez o exercício melhor executado no aspecto técnico. Duas secções simbolizando o inimigo não conseguiram danificar o objectivo. As forças empenhadas na defesa foram dois pelotões.

Dia 3, foi destinado a limpeza do material e descanso do pessoal. Aproveitou-se para fazer crítica construtiva acerca dos exercícios efectuados durante a semana.

Dia 4, a companhia deslocou-se para o local de estacionamento n.º 2, a 20km do quartel. Fez a sua instalação e montou o seu dispositivo de segurança.

Dia 5, iniciou-se a nomadização da companhia que foi guiada pelo Cmdt respectivo. Este exercício foi de bastante utilidade. Devido às mesmas dificuldades logísticas, este exercício foi interrompido a fim do pessoal se alimentar.
Devido à alteração do horário, os exercícios de limpeza de uma zona e limpeza de uma povoação não se efectuaram. O pessoal continuou a sua nomadização durante toda a noite de dia 5 para o dia 6, regressando cerca das 8H00 ao acampamento.
Cerca das 16H00, houve uma demonstração sobre a forma de o pessoal se aproximar a um helicóptero.
Seguindo-se pelas 18H30, o deslocamento da companhia para o GACA 2.

Dia 7, durante a manhã, na serra do Aire, o pessoal do pelotão de acompanhamento, fez fogo real com morteiro e lança granadas foguete.
Durante a tarde estava previsto o lançamento de granadas, ofensivas e defensivas, devido ao adiantado da hora não se pode realizar.
Todos os exercícios no campo foram completados com acções do inimigo.

Quartel em Torres Novas, 17 de Dezembro de 1967

O Cmd da Cia. 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap mil Art.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

sábado, 25 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3356: Em bom português nos entendemos (3): Termos informáticos e seu significado em português (Ferreira Neto)




1. Mensagem do nosso atento camarada Ferreira Neto (*), ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjabari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 24 de Setembro passado, falando-nos de alguns termos usados na informática, que poderiam ser substituídos facilmente por palavras portuguesas, se nos habituássemos a aplicá-las com mais frequência.


Caro Vinhal:

BLOG nem sequer é uma palavra inglesa. É resultado da contracção do termo WEB LOG, julgo absolutamente aceitável como neologismo no nosso léxico, o termo traduz de uma forma simples um montão de coisas.

O termo LINK pode ser substituido pelo português hiperligação (termo usado na informática com o mesmo significado).

BROWSER, e porque não navegador, que felizmente já se vai usando?

Porque não deixamos por uma vez de utilizar termos ingleses, quando podemos substituí-los pelos nossos equivalentes. Confesso que muitas vezes recorro ao dicionário, como agora estou a fazer. Não sei se neste programa da introdução dos computadores nas escolas, estará previsto a introdução dos termos portugueses. Creio que seria uma boa ideia. Na China como farão?

A blog (a contraction of the term "Web log") is a Web site, usually maintained by an individual [1], with regular entries of commentary, descriptions of events, or other material such as graphics or video. Entries are commonly displayed in reverse-chronological order. "Blog" can also be used as a verb, meaning to maintain or add content to a blog. Many blogs provide commentary or news on a particular subject; others function as more personal online diaries. A typical blog combines text, images, and links to other blogs, Web pages, and other media related to its topic. The ability for readers to leave comments in an interactive format is an important part of many blogs. Most blogs are primarily textual, although some focus on art (artlog), photographs (photoblog), sketches (sketchblog), videos (vlog), music (MP3 blog), audio (podcasting), which are part of a wider network of social media. Micro-blogging is another type of blogging, one which consists of blogs with very short posts. As of December 2007, blog search engine Technorati was tracking more than 112 million blogs.[2] With the advent of video blogging, the word blog has taken on an even looser meaning — that of any bit of media wherein the subject expresses his opinion or simply talks about something.

Abraço
Neto
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Tradução (rápida) de LG, a pedido do co-editor CV

Um blogue (, do inglês blog, contracção da expressão "Web log") é um sítio da Web, normalmente mantido por um indivíduo, com entradas regulares de comentários, descrições de acontecimentos, ou outros materiais, tais como gráficos ou vídeo.
As entradas aparecem geralmente por ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo.

O termo blog também pode ser usado, em inglês como um verbo, significando manter (ou acrescentar conteúdos a) um blog. (Blogar, na gíria portuguesa). Muitos blogues apresentam comentários ou notícias sobre um assunto específico, enquanto outros funcionam mais como diários pessoais em linha. Um blogue típico combina texto, imagens e hiperligações para outros blogues, páginas da Web e outras fontes relacionadas com o seu tópico. A possibilidade para os leitores de deixar comentários num formato interactivo é uma funcionalidade importante de muitos blogues.

A maioria dos blogues são principalmente de texto, embora alguns tenham tenham um enfoque na arte (artlog), na fotografia (photoblog), no desenho (sketchblog), no vídeo (vlog), na música (MP3 blog), no áudio (podcasting), todos eles parte integrante de uma vasta rede de meios sociais de comunicação. ‘Micro-blogging’ é um outra forma de blogar, consistindo em blogues com postes (ou postagens) curtíssimos.

Em Dezembro de 2007, o motor de pesquisa de blogues Technorati estava a monitorizar o mais de 112 milhões de blogues. Com o advento dos blogues de vídeo, a palavra ‘blog’ tem assumido um significado ainda mais flexível - qualquer bocado de bit de media em que um indivíduo expressa sua opinião ou simplesmente fala sobre algo.
____________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3227: Em bom português nos entendemos (2): Estória ou História (Ferreira Neto e Carlos Vinhal)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3227: Em bom português nos entendemos (2): Estória ou História (Ferreira Neto e Carlos Vinhal)


1. A propósito do uso da palavra Estória, no nosso Blogue, como narrativa das nossas experiências e vivências na Guiné, recebemos uma mensagem do nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjabari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 21 de Setembro de 2008:

Caro Vinhal

Logo de início, tivemos oportunidade de falar no assunto. No seu super dicionário não constava a palavra, nem nos meus.

Ao longo deste tempo, pessoas a quem eu recomendava a leitura do nosso "blogue", exprimiam o desejo de se efectuar a correcção, porque a nossa contribuição é com histórias e não com contos.

Sou teimoso por natureza, e nem a propósito, ontem topei um sítio de nome <Ciberdúvidas e dele extraí o que se segue:

História e estória, mais uma vez

[Pergunta]
Na resposta História e estória, de 10/02/2003, faz-se referência a um registo no dicionário Houaiss de estória como sendo «narrativa de cunho popular e tradicional», dando a entender que, neste sentido, seriam conceitos diferentes. Mas, se se consultar história no mesmo dicionário, lá vem, também, a mesma definição: «Narrativa de cunho popular e tradicional». Ou seja, no meu entender, Houaiss tem a mesma posição de Morais e Aurélio, que atribuem o mesmo significado aos dois vocábulos. Os dicionários da Academia das Ciências 2001, Cândido de Figueiredo, José Pedro Machado, Lacerda, Porto Editora, Torrinha e Prosódico de António Carvalho e João de Deus não registam o vocábulo estória. Para mim, simples amador na matéria, estória é grafia antiga ou linguagem popular, sendo costume meter a palavra entre aspas ou em itálico. Esta moda recente (não tão recente como isso...) de distinguir facto histórico usando História, de ficção, usando estória, nada mais é que a importação do Inglês, que tem, esse sim, dois vocábulos e dois conceitos: History e story. Nenhuma língua latina faz essa distinção de conceitos, que eu saiba. Estarei errado? Com os meus cumprimentos

[Resposta]
Muito obrigados pelas suas observações pertinentes. O uso da forma "estória" refle(c)te certamente a influência semântica do inglês. Essa forma está atestada em documentos do período medieval, mas, ao que parece, como variante gráfica e fonética de história, sem implicações ao nível do sentido

Estória "vs" História

[Pergunta]
Quando é que se usa a palavra estória em vez de história?

[Resposta]
Estória é uma palavra vinda do Brasil. Note-se, era assim que se grafava no século XV. Só depois veio história. Um brasileiro lembrou-se de grafar história, quando se tratava de "ciência histórica" e de grafar estória para significar "narrativa de ficção", "conto popular", etc. Mas os dicionários brasileiros aconselham a que se escreva sempre história, embora se aceite a liberdade jornalística da distinção de um e outro conceitos.

Espero perante o que foi exposto, seja legítimo fazer-se a respectiva correcção.
(...)

Um abraço, extensivo a toda a famíla
F. Neto

2. No mesmo dia foi enviada ao camarada Ferreira Neto a seguinte mensagem

Caro Professor (*)
Prazer em vê-lo de novo. Há muito que não dava sinais.

Com respeito à história da Estória, já alguém que defende a língua portuguesa nos blogues, se nos dirigiu e chamou a atenção para o uso errado (?) do termo.

Esta palavra está, bem ou mal, a ser utilizada no nosso Blogue desde a fundação e compete ao Luís Graça dar instruções para se abolir ou não o seu uso. Eu sou apenas um humilde colaborador que tem a quarta classe adiantada.

O meu velhinho Dicionário da Porto Editora, que o meu pai me comprou há 50 anos, não tem o termo estória. O mesmo acontece com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa.

Confesso que concordo com professor, não gosto da estória.
(...)

Vou dar conhecimento desta sua mensagem aos restantes editores do Blogue.

Passo a terminar enviando-lhe um abraço e votos de boa saúde.
(...)
Carlos Vinhal

OBS:-
- As partes suprimidas das mensagens ou nada têm a ver com a Estória, ou são de âmbito particular.
- Os negritos são da responsabilidade do editor.


3. Comentário de CV

Dei umas voltas pela Net e:

i- na Infopédia, Enciclopédia e Dicionários da Porto Editora, encontrei o que abaixo transcrevo, com a devida vénia:

estória
nome feminino; história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta
(De história, ou do ing. story, «id»)

ii - ainda na Infopédia encontrei:

Luuanda

Luuanda (1963), da autoria de Luandino Vieira (1935-), é uma obra histórica, vista como um autêntico livro de ruptura, ruptura com a norma portuguesa.
Pelo seu cariz inovador, mereceu o reconhecimento geral e foi galardoado com dois importantes prémios - 1º Prémio D. Maria José Abrantes Mota Veiga, atribuído em Luanda em 1964, e o 1º Prémio do Grande Prémio da Novelística, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores, em Lisboa, em 1965.

Luuanda é composto por três histórias - ou "estórias", como o próprio Luandino Vieira gosta de as retratar: "Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos", "A estória do ladrão e do papagaio" e "A estória da galinha e do ovo".
Todo o texto de Luuanda apresenta-se com uma forte dramatização, teatralização, onde toda a narrativa nos descreve e dá a conhecer o espaço angolano, sempre em contraste absoluto com o espaço do homem branco - os prédios, as casas, as ruas asfaltadas e limpas, o espaço claro e arejado.

As "estórias" de Luuanda retratam as coisas do dia-a-dia dos musseques angolanos: as histórias das famílias, o ambiente caótico, de confusão, que a própria arquitectura do musseque representa; o confronto de ideias e comportamentos entre novos e velhos e entre pretos e brancos que lá entravam por diversos motivos: inspeccionar os andamentos, cobrar as rendas, policiar os desacatos, etc.
(...)

iii - Na Wikipédia encontrei:

Estória
é um neologismo proposto por João Ribeiro (membro da Academia Brasileira de Letras) em 1919, para designar, no campo do folclore, a narrativa popular, o conto tradicional.

Alguns consideram o termo arcaico, por ser encontrado também em textos antigos, quando a grafia da palavra na língua portuguesa ainda não fora consolidada.

O termo acabou por não ter uma aceitação generalizada, não figurando nos dicionários portugueses e apenas em alguns brasileiros. Apesar de ter sido usada na linguagem coloquial, o termo nunca figurou na norma culta.

iii - No site Sua Língua, encontrei um artigo de autoria de Cláudio Moreno que passo a transcrever, com a devida vénia:

A história de "estória"

Perdi a conta dos leitores que me perguntam sobre a famigerada estória. Uns querem saber se realmente existe essa distinção entre estória e história. Outros teriam ouvido que a palavra existiu outrora, mas hoje seria considerada arcaica. Há quem especule que estória tenha nascido de um erro de tradução. Quase todos perguntam se é uma distinção útil e necessária, ou se não passa de supérfluo balangandã. Peço perdão àqueles que fiz esperar, mas aqui vai minha resposta a todos.

Foi João Ribeiro, forte conhecedor de nosso idioma, quem propôs a adoção do termo estória, em 1919, para designar, no campo do Folclore, a narrativa popular, o conto tradicional, objeto de estudo dos especialistas daquela área. E não se tratava de inventar, mas sim de reabilitar (hoje usariam o horrendo resgatar...) uma forma arcaica, comum nos manuscritos medievais de Portugal. Era uma ingênua proposta, paroquial, nascida da inveja compreensível que causa a distinção story - history do Inglês; sem ela, alega o próprio Luís da Câmara Cascudo - para mim, um dos escritores que mais contribuíram para nossa língua -, não se pode entender frases como "Stories are not History", ou títulos como "The History of a Folk Story". Que o mestre Cascudo me perdoe: a intenção era boa, mas sem nenhum fundamento lingüístico.

Em primeiro lugar, a estória medieval não era um vocábulo diferente de história; era apenas uma das muitas variantes que se encontram nos textos manuscritos de nossos copistas, naquele tempo heróico em que a estrutura de nossa ortografia ainda lutava para sedimentar. Ali aparecem história, hestória, estória, istória, estórea (ainda não se usavam os acentos, que são de nosso século, mas não pude resistir). Da mesma forma, vamos encontrar homem, omem, omee (algumas vezes com til no primeiro e) e até ome. Nota-se que o emprego do "h" e das vogais ainda não estava estabilizado na escrita. Entretanto, já no séc. XVI - em Camões, por exemplo - a grafia de homem e história era a que é usada até hoje. Outras línguas da família latina, como o Espanhol e o Francês, também experimentaram essa variedade de formas para história, mas terminou prevalecendo a forma única (historia e histoire, respectivamente).

Em segundo lugar: grande coisa se o Inglês pode fazer a distinção entre story e history! E daí? Como o folclórico Napoleão Mendes de Almeida nos lembra, eles também distinguem entre can (poder, conseguir) e may (poder, no sentido legal e ético): "You can, but you may not" é uma rica frase em Inglês que só poderíamos traduzir com um aproximado "Você pode, mas não deve". Esse autor, que abominava estória, pergunta ironicamente: "Se curtos de inteligência foram nossos pais em não terem descoberto essa história de "estória", curtos de inteligência continuamos todos nós em não forjarmos distinção gráfica e fonética para "poder", para "educação", para "raio", para "oficial" e para outros vocábulos de formas diferentes em Inglês, como curtos de inteligência são todos os outros idiomas que têm palavras com mais de uma significação".

Dessa vez Napoleão bateu no prego e não na tábua. Uma olhada no meu Oxford e me dou conta que para nosso raio, por exemplo, o Inglês tem (1) ray (onde temos "raio de luz", "pistola de raios"), (2) radius (o "raio de um círculo") e (3) lightning (a "descarga elétrica"). É mais do que comum o fato de uma língua fazer distinções vocabulares que outras não fazem. Como tive a oportunidade de mencionar em outro artigo (Atravessando o Canal da Manga), o Espanhol designa com um único vocábulo (celo, celos) o que nós distribuímos por três: zelo, cio e ciúme. Invejamos o story do Inglês? Eles então devem ficar verdes diante de nosso ser e estar, distinção fundamental na vida e na Filosofia, que eles simplesmente desconhecem. Assim são as línguas humanas, na sua (im)perfeição.

Além disso, os amáveis folcloristas que defendiam estória pensavam apenas em distinguir "a História do Brasil das Histórias da Carochinha". Do ponto de vista lingüístico, erraram por todos os lados. Primeiro, erraram porque essa não é uma distinção útil, que justifique sua defesa. O português José Neves Henriques, o severo e consciencioso JNH do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (já falei sobre ele na seção de Links), condena essa invenção "brasileira" (ele tem razão: é coisa nossa), tachando-a de "uma palermice, porque, até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados". Certo o professor Henriques, errados os folcloristas: ninguém vai confundir a história de um país com a história do bicho-papão.

Segundo, erraram porque enxergavam apenas dois pólos bem definidos: a história que se refere ao passado e ao seu estudo, e a estória da narrativa, da fábula. A experiência nos diz que essas invasões de searas alheias geralmente pecam por um raciocínio simplista, reducionista. Quem mexe no que não entende, termina fazendo bobagem... e não deu outra. Nossos estudiosos não perceberam que a distinção sugerida, apetecível do ponto de vista deles, acabaria criando incertezas e hesitações em frases corriqueiras como "Deixa de histórias!"; "Essa já é outra história"; "Que história é essa?"; "Eu e ela temos uma velha história". Qual das duas formas usar? Por tão pouco benefício, por que assombrar ainda mais os que escrevem em Português? Faço questão de frisar "os que escrevem" - porque aqui, também, reside outra falha da proposta de João Ribeiro: as duas formas não seriam distinguíveis na fala, já que a realização da vogal "E" inicial de estória é geralmente /i/ (como em espada, esperto, etc.). Ambas seriam pronunciadas da mesma maneira: /istória/. E quantas outras palavras, derivadas de história, deveriam ser alteradas? Historieiro? Historiento? As historietas passariam a ser estorietas? Os aficionados em quadrinhos passariam a usar EQ em vez do consagrado HQ? Como se vê, "muito trabalho por nada", como reza a comédia de Shakespeare.

De qualquer forma, o uso de estória poderia ter ficado confinado ao mundo do Folclore, onde talvez fosse de alguma utilidade. Afinal, não é incomum que certas áreas do pensamento postulem, para uso exclusivo, vocábulos novos ou variações fonológicas ou ortográficas de vocábulos antigos, no afã de obter maior precisão em seus conceitos. Isso se verifica, por exemplo, na Filosofia, na Lógica, na Lingüística, na Psicanálise (onde me chama a atenção a impressionante inquietação lingüística dos lacanianos). Como é natural, essas variantes vão fazer parte de um código específico, cujo emprego passa a ser indispensável para os especialistas dessa área, mas não entram no grande caudal da língua comum. A criação, a utilização e, muito seguidamente, a agonia e morte dessas formas são registradas em discretos dicionários especializados, convenientemente isolados do grande rebanho representado pelos dicionários de uso.

Infelizmente, como nos piores pesadelos dos ecologistas, estória rompeu as cercas de segurança, saiu do pequeno rincão do Folclore e invadiu nossas vidas. O responsável por isso foi João Guimarães Rosa (pudera não!). Como escreve meu mestre Celso Pedro Luft, com uma ponta de inesperada ironia, Rosa decidiu "glorificar, imortalizar a ausência do agá: Primeiras Estórias. Corriam os anos de 1962. Primeiras estórias ... todos os fãs do mineiro imortal ficaram absolutamente alucinados. E foi estória para cá, estória para lá, estória para todos os lados. Uma epidemia. Perdão, uma glória". Depois, em 1967 veio Tutaméia, com o subtítulo "Terceiras Estórias", e o póstumo Estas Estórias, publicado em 1969. Muito tem sido escrito sobre a inovação da linguagem rosiana; a sintaxe de seu narrador é, a meu ver, a criação literária do século. No entanto, sou obrigado a observar que, em termos não-literários, essa inovação é zero. Nenhuma das palavras montadas, deformadas ou inventadas por ele jamais será usada, a não ser por imitadores (que já andam escasseando...). É uma linguagem só dele; funciona admiravelmente no universo de sua obra, mas é seu instrumento pessoal, e nunca será nosso. Ouso dizer que a única influência rosiana no Português foi a divulgação desse equívoco que é estória. Tenho certeza de que Guimarães Rosa, místico de quatro costados, entenderia: deve ser vingança dos deuses da Língua.


Resumindo e concluindo. Embora não eu goste de utilizar o termo estória, mas uma vez que a Língua Portuguesa está a ser invadida por termos brasileiros e não só (dizem que faz parte da evolução de uma língua que se quer viva), acabo por me render a este e a outros termos que à força de se lerem e ouvirem, acabam por entrar no nosso dia-a-dia, quer na escrita, quer no modo de falar.

Deixo aberta a discussão a quem achar que o assunto deve ser debatido, porque em Bom português nos entendemos.
____________________

Nota explicativa de CV

(*) - Acho que devo uma justificação à tertúlia pelo facto estar a ir contra as normas vigentes.

As relações entre mim e o ex-Cap Ferreira Neto não são as mesmas que mantenho com os restantes camaradas do Blogue. Eu não consigo abstraír o facto de ter conhecido o Engenheiro Ferreira Neto, há muitos anos, como professor da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, que frequentei e onde me licenciei para a vida. Daí o meu tratamento de Professor ou Engenheiro e não o tu habitual. Para evitar mal-entendidos, ressalve-se que eu é que impus ao nosso camarada Ferreira Neto esta excepção.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2210: Estórias avulsas (1): Soldado Clarim Serraninho (Ferreira Neto)

Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjabari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69).

Estórias avulsas (8) > Soldado Clarim Serraninho
por Ferreira Neto (1)

Esta aconteceu em Novembro de 1967, antes da nossa partida para a Guiné.

Em pleno treino operacional, algures nas imediações de Torres Novas, tínhamos o nosso acampamento montado com os toques de clarim, para marcar as diversas fases do decorrer do dia.

Tínhamos um Cabo Clarim e dois Soldados especialistas do mesmo instrumento. Só que o clarim Serraninho, de seu nome, era uma verdadeira nódoa no seu mister.

Era, no entanto, bem recebido o seu toque de alvorada, já que o dito soldado consumia-se para produzir o som conveniente e suficientemente afinado, para o identificar com o evento.

Era um gargarejar de sons, intercalados por pausas, soluços e provavelmente suspiros. Era um desunhanço tal que lhe permitia ser ouvido por todos nós que, muito bem dispostos, acordávamos.

Mas, não há bela sem senão, uma manhã o toque de alvorada não se fez ouvir, nem bem, nem mal.

Após a expectativa normal pela falta do nosso divertimento matinal, ouvimos gritos cuja intensidade aumentava e por fim tornaram-se perceptíveis. Eis o que ouvimos:
- Acordem, acordem todos, que já tocou a alvorada!

Fácil de entender, o Serraninho naquela manhã não tinha sequer conseguido arrancar um gemido ao seu clarim. Então, num momento de desespero por não conseguir cumprir a sua missão, lançou-se a correr, acampamento fora, nos termos atrás relatados.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
_______________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. Posts anteriores desta série:

9 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2168: Estórias avulsas (7): Cabra Maria (Ferreira Neto)

26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2134: Estórias de vida (6): A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos (Ferreira Neto)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1193: Estórias avulsas (4): O fantasma-cagão da 3ª Companhia do COM, EPI, Mafra, 1966 (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1136: Estórias avulsas (3): G3 ensarilhadas com Kalashnikov, no pós-25 de Abril (Pedro Lauret)

16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2168: Estórias avulsas (7): Cabra Maria (Ferreira Neto)



Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69).








Guiné > Região do Óio > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340
Foto: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.
Cabra Maria

O meu Vagomestre de seu nome Ferreira, decidiu comprar ao pessoal da tabanca uma cabra ao qual pôs o nome de Maria.

Pois a cabra deu à luz dois cabritos que se puseram muito bonitos com o andar do tempo.

Sentinelas atentas

Após o nosso banho fresco, ao fim da tarde de determinado dia, andava eu com o Alferes Silva passeando ao longo da pista, que se situava num dos lados do aquartelamento.

A nossa amena cavaqueira foi de súbito interrompida pelo estampido de uma arma, cujo projéctil passou por cima das nossas cabeças a uma boa altura.

Dirigimo-nos apressadamente para a entrada do aquartelamento, onde deparamos com a sentinela de olhos arregalados, que interpelada por mim disse que tinha disparado por ver turras, no fim da pista.

Deu-me vontade de lhe dar dois estalos e perguntei-lhe se eu e o alferes tínhamos tal aspecto e se o fôssemos, andávamos a passear em pleno dia pela pista.

Susto para ambas as partes…

Na noite seguinte outro estampido. Tratei de indagar o que se passava. Foi-me dito que tinha sido mais uma vez uma sentinela (não a mesma, felizmente), que tinha pressentido um movimento no capim e tinha disparado pelo sim pelo não. Muito bem.

E agora voltamos à Maria e aos seus filhotes, que aparentemente não tinham a ver nada com a história.

O nosso Vagomestre queixou-se dizendo que um dos cabritinhos tinha desaparecido.
Após busca encetada por ele, foi encontrado no meio do capim, morto com uma bala de G3. Tivemos rancho melhorado.

O meu comentário para o Alferes Silva foi o seguinte:
-Ainda bem que esta sentinela não esteve de serviço ontem.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
________________
Nota de CV:

(1) Vd. Post de 26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2134: Estórias de vida (6): A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos (Ferreira Neto)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2134: História de vida (6): A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos (Ferreira Neto)

Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69).



1. É sabido que um dos grandes problemas do Regime para manter a Guerra Colonial, foi, a certa altura, arranjar Capitães para comandar o grande número de Companhias enviadas para os Teatros de Operações.

Os Capitães do Quadro Permanente tinham, na sua maioria, efectuado já duas e três Comissões de Serviço, e já apresentavam um desgaste físico e psicológico muito acentuado. Os que não conseguiam evitar mais uma Comissão, tudo faziam para baixar aos Hospitais Militares depois de mobilizados.

Como os Capitães que baixavam e que posteriormente eram abatidos ao efectivo das Companhias, não eram substituídos em tempo útil, eram os Alferes Milicianos que aguentavam a guerra como podiam. Como por vezes também os Alferes baixavam, até os Furriéis Milicianos comandavam Pelotões.

A solução encontrada pelas Chefias Militares foi recorrer aos Oficiais Milicianos na situação de Disponibilidade, que por sorte (ou azar) não tinham sido mobilizados durante o tempo normal de Serviço Militar Obrigatório.

Eram chamados de surpresa para frequentar um Curso acelerado de Capitães Milicianos e lá iam comandar Companhias Operacionais, tendo muitos deles deixado para trás a família já constituída e uma vida profissional estabilizada.

Esta situação foi vivida pelo nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil, Comandante da CART 2340 (1).



2. A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos
Por Ferreira Neto

Terminado o meu serviço militar obrigatório em 15 de Fevereiro de 1959, iniciei a minha vida profissional em Novembro.

Com a vida estabilizada, casei-me em 18 de Agosto de 1960.

Entretando, em 4 de Fevereiro de 1961, os movimentos separatistas nas nossas colónias iniciaram a suas actividades.

Como tinha passado à disponibilidade, havia menos de um ano atrás, fiquei na expectativa de ser mobilizado para a guerra. Expectativa que continuou por muitos meses, com o adicional desconforto na minha vida. No entanto, com o passar dos meses esse estado foi-se desvanecendo, até porque, o número de cursos de oficiais milicianos era maior, e por consequência a quantidade que se interpunha entre mim e uma possível mobilização tornava cada vez mais distante. A consequente probabilidade de ser alistado diminuía a olhos vistos para meu descanso e da restante família. Assim fui progredindo na minha vida profissional e melhoria de proventos do meu trabalho.

Para minha surpresa, em Dezembro de 1966 fui convocado para me apresentar em Mafra, como Tenente, para frequentar o Curso de Capitães Milicianos, que se iniciaria em Janeiro do ano seguinte.

E assim foi, com a consequente diminuição dos meus proventos do trabalho, que passaram a ser muito menos de metade do que auferia até então, separação da família que só me era possível ver aos fins-de-semana, acrescido das despesas de viagem para tal acto.

Nesta altura tinha já um filho com 5 anos de idade. Com a minha mulher, tínhamos planeado ter mais um rebento. A situação descrita iria fazer com que tivessemos que optar por três hipóteses:
(i) - desistir da ideia de ter mais filhos,
(ii) - de os ter depois do meu regresso, ou
(iii)- de iniciar antes da minha partida.

A primeira hipótese não nos agradava, a segunda seria um intervalo bastante grande de idades entre os dois, o que não era aconselhável, pelo que optámos pela terceira, fazendo preces para que eu regressasse vivo.

Tal aconteceu, só que a minha mulher não teve o acompanhamento sempre desejado do marido, eu tinha embarcado para a Guiné no dia 10 de Janeiro de 1968. Nasceu uma menina em Julho desse mesmo ano. Felizmente tive oportunidade de, em Setembro, aquando da minha primeira licença, assistir ao seu baptismo.

Em Fevereiro de 1969, na segunda licença já a cachopinha se encontrava com seis meses e toda bonitinha à custa da minha mulher que teve que se haver quase só com a criação da criaturinha.

Eis o que me aconteceu e também em circunstâncias piores a centenas de outros e consequentes traumas de guerra, ainda hoje precariamente atendidos.

Ferreira Neto
Ex-Cap Mil
CART 2340
___________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. post de 14 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Apresenta-se Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

Texto de Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,1968/69) (1)

(i) Punições

Dia 18 de Novembro de 1968 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do BCAÇ 1932 o Soldado n.º 00347967, J. M.B. L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 21 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Furriel Miliciano n.º 01329267, P. J.V., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.° Cabo n.º 03156167, F.L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 31 de Março de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o 1.º Cabo n.º 02715767, A. F.M., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 7 de Junho de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o Soldado n.º 13504968, J.E. S. F., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 4 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 8 dias de prisão disciplinar.

Dia 23 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.º Cabo n.º 03844267, J. C. O., com 10 dias de detenção.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Soldado Condutor n.º 00696967, B. R. S., com 10 dias de detenção.

Dia 15 de Outubro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o 1.º Cabo n.º 03485567, M. J. P. G., com 15 dias de detenção. (2)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340


(ii) Louvores e Condecorações

Louvados em 31 de Julho de 1969, por Sua Excelência o Comandante Militar:

Louvo individualmente os seguintes militares:

Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes

1.º Cabo n.º 03485567, Manuel José Pereira Guimarães

Soldado n.º 00633457, Armando Lucena Pinheiro


Porque no dia 2 de Abril de 1969, se ofereceram voluntariamente para ajudar a retirar as viaturas, um morteiro e respectivas munições da proximidade de uma caserna da CART. 2340, em chamas, cujo paiol estava a arder; provocando, de quando em quando, explosões que podiam ser mortais.
A atitude assumida com magnífico desprezo pelo perigo e pelo desembaraço demonstrada constituem exemplo brilhante de coragem e abnegação digno de ser apontado como exemplo.

Louvados em 27 de Outubro de 1969, pelo Excelentíssimo Comandante de Companhia de Artilharia 2340

Louvo o Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes porque durante a sua permanência como comandante do destacamento do Dugal, demonstrou elevado espírito de iniciativa e entusiasmo pelo trabalho, contagiando do seus subordinados, levando-os a melhorar as condições do aquartelamento. O seu trabalho é tanto mais digno de ser apreciado, atendendo à intensa actividade operacional solicitada ao destacamento.

Louvo o 2.° Sargento de Artilharia n.º 51667511, José Virgílio da Rocha Borges, porque durante a sua comissão, desempenhou todas as funções que lhe foram atribuídas, com extraordinária dedicação e entusiasmo, e sentindo do dever, merecendo ser apontado como exemplo, sendo digno das provas de estima de que foi alvo, tanto da parte dos seus superiores como dos seus subordinados.

Louvo o Furriel Miliciano de Artilharia n.º 09539365, Luís Manuel Pessoa Begonha, porque durante a sua comissão, desempenhou com brio honestidade e voluntarioso entusiasmo, todas as funções a que foi solicitado além da sua de comandante de secção. De realçar a extraordinária versatilidade do seu espírito, que lhe permitiu moldar-se ás mais diversas situações, que o tornaram digno da maior estima dos seus superiores e admiração dos seus subordinados.

Louvo o 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, n.º 00019167, Manuel Correia de Oliveira, porque durante a sua comissão, demonstrou grande grau de conhecimentos, e elevado espírito de abnegação, demonstrada várias vezes nas acções em que tomou parte, desprezando o seu estado físico e acorrendo aos camaradas que dele necessitavam, tratando-os e encorajando-os com uma palavra amiga ou um dito espirituoso.

Louvo o 1.º Cabo n.º 02643867, Horácio Correia da Silva, porque durante a comissão, demonstrou em todas as acções, que tomou parte, grande sangue frio, valentia e abnegação. A par destas qualidades era ainda possuído de grande amor ao trabalho, sensatez e correcção que o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir.

Louvo o 1.º Cabo n.º 00462467, Manuel Gonçalves, porque durante a sua comissão, demonstrou extraordinária iniciativa, decisão e valência, nunca descurando o mais pequeno pormenor de segurança, contribuindo assim com a sua sensatez para que os seus camaradas o admirassem e o tomassem como exemplo, conquistando também a simpatia e consideração dos seus superiores. De salientar a sua acção na tabanca de Jumbembem, na qual voluntariamente instruiu um grupo de caçadores nativos.

Louvo o 1.º Cabo Escriturário, n.º 04610267, José Manuel Ribeiro de Barros, porque durante a sua comissão desempenhou as suas funções com extraordinária competência e dedicação, desconhecendo o descanso quando o seu trabalho o exigia. De salientar também, o facto de durante as inúmeras flagelações IN, ao aquartelamento de Canjambari, ser o primeiro a chegar ao morteiro 81 revelando se um precioso e corajoso auxiliar do apontador e substituindo este quando se tornava necessário.

Louvo o 1.º Cabo Operador Cripto, n.º 02220367, José Maria Ribeiro Gaspar porque durante a sua comissão, desempenhou com elevado grau de competência e disciplina o seu cargo. De salientar ter sempre desconhecido horários, para o desempenho das suas funções atendendo a que qualquer mensagem desde a rotina à relâmpago, o encontrava sempre pronto a decifrá-la. Corajoso e digno representante da sua especialidade, a sua conduta é digna de ser apontada como exemplo.

Louvo 1.º Cabo Mecânico Auto, n.º 03276167, Luís Manuel Gomes da Silva, porque durante a comissão se revelou sempre cumpridor e competente, não regateando esforços para o bom andamento do serviço. Bom camarada, conquistou a estima e administração dos seus superiores e camaradas.

Louvo o Soldado Mecânico Auto n.º 02444467, José da Rocha Sousa, porque durante o seu tempo de comissão, revelou alto grau de conhecimento no desempenho das suas funções. De realçar a sua propensão para a resolução de problemas de mecânica o que permitiu o bom êxito de muitas colunas auto.

Louvo o Soldado n.º 10412567, Ezequiel Bento Caixinha, porque no dia 16 de Agosto de 1969, com risco da própria vida, tentou salvar da morte por afogamento do seu camarada africano, Soldado Milícia Mudo Sira, e só o não conseguiu, porque apesar de ter segurado uma corda entre os dentes e nadado para o local onde o milícia se debatia, a corrente forte da maré vazante o não permitiu, tendo-o afastado do soldado que acabou por submergir: Apesar disso, ainda mergulhou várias vezes nas imediações do local, onde ele desaparecera na tentativa de o encontrar.

Louvo o Soldado n.º 00347967, José Maria Barros Lopes, porque durante a sua comissão, se ter comportado como digno, valente e verdadeiro soldado. Voluntário para todas as acções cumpriu-as com elevado espírito de sacrifício. Perguntado acerca das razões do seu voluntariado permanente respondia com ar simples, que tinha vindo para a Guiné, para a conhecer: De salientar a sua acção, quando numa emboscada a NT, nitidamente inferiorizadas fisicamente, e debaixo do fogo IN e dos gritos "agarra à mão ", e apesar de um estilhaço ter perfurado o carregador de sua G3, com imperturbável serenidade o substituiu e ripostou ao fogo IN, contribuindo assim para a sua debandada.

O Comandante da CART 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap Mil Art
_____________________________

Notas do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

5 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

(2) De acordo com os nossos princípios editoriais, optámos por não publicitar o nome dos nossos camaradas da CART 2340 que sofreram punições, embora essa informação possa constar em documentos públicos ou em arquivos públicos. Eles têm direito ao bom nome, pelo que são apenas identificados pelo posto, nº mecanográfico e iniciais do nome. Esta informação sobre louvores e punições tem interesse meramente factual, documental. Faz parte da petite histoire da guerra colonial, das misérias e grandezas das NT e dos seus comandantes... Não nos questionamos sobre a sua justiça ou injustiça, nem temos elementos para o fazer... Em todas as unidades, houve punições e louvores. E, em geral, mais louvores do que punições. (CV/LG).

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,
1968/69) (1)


Baixas Sofridas:

(1) Mortos em Combate:



Em 15 de Fevereiro de 1968

Soldado Radiotelegrafista 05407067 João Lourenço Nunes
Soldado Nativo 82039064 André Pinto CCAÇ 3
Soldado Nativo 82053763 Coli Candé CCAÇ 3

Em 26 de Março de 1968

Soldado Cond Auto 00271767 Manuel dos Santos Cravo

(2) Mortos por Desastre:

Em 15 de Agosto de 1969

Soldado Milícia 24767 Mudo Silá 108 CMIL

Mortos por Doença:

Em 3 de Agosto de 1968

Fur Mil 03703065 Aurélio Raul da Silva Brochado

(3) Feridos em Combate evacuados para o HMP:

Em 26 de Março de 1968

1.º Cabo Aux Enf 02049967 Carlos Alberto Costa Leitão da Graça
1.º Cabo Atirador 01253867 Humberto Alfredo Gonçalves Vicente

Em 15 de Janeiro de 1969

Soldado Atirador 00256767 Joaquim Domingues

Em 26 de Março de 1969

1.° Cabo Atirador 02643867 Horácio Correia da Silva
1.° Cabo Atirador 03375067 José Alcides Fernandes
1.° Cabo Atirador 01148567 José Gonçalves da Cunha

Em 29 de Maio de 1969

1.° Cabo Cozinheiro 11096667 António Frederico Alho

(4) Feridos em Desastre evacuados para o HMP:

Em 25 de Abril de 1968

Soldado Nativo 82046962 Agostinho Mendes CCAÇ 3

Em 22 de Maio de 1968

1.º Cabo Atirador 00679767 Manuel Luís da Silva Pereira

(5) Doentes evacuados para o HMP:

Em 3 de Agsto de 1968

1.º Cabo Atirador 00234067 José Fernando Madeira Valentim
Soldado Básico 09731166 Joaquim Morais

Em 12 de Dezembro de 1968

Soldado Atirador 00069365 João da Silva Almeida

Em 19 de Dezembro de 1968

1.º Cabo Atirador 01280867 José Alves de Sousa

Em 22 de Dezembro de 1968

Soldado Cond Auto 02921367 Domingos Afonso Leite

Em 28 de Fevereiro de 1969

Soldado Atirador 00007866 José da Silva Rodrigues

Em 21 de Março de 1969

Soldado Atirador 00200267 Artur Gomes Alves
Soldado Atirador 00269266 Manuel Macedo Fernandes
Soldado Atirador 02444467 José da Rocha Sousa

Em 29 de Março de 1969

Soldado Atirador 02457567 Manuel Barbosa de Castro

Em 11 de Abril de 1969

Soldado Atirador 01878667 José Alberto Gregório

Em 18 de Abril de 1969
Soldado Atirador 03772467 Joaquim Carlos Martins Osório

Em 8 de Maio de 1969

1.º Cabo Atirador 00874367 António Paz de Caldas
Soldado Tica 04147767 Joaquim António Fonseca Barbosa

Em 9 de Junho de 1969

Soldado Cozinheiro 07151567 António Jorge Paradela
Soldado Atirador 09413767 Nuno Figueiredo Ferreira
Soldado Atirador 09642367 Manuel das Neves Quintino

Em 16 de Junho de 1969

1.º Cabo Atirador 01990267 António Manuel Soares Marques

Em 31 de Julho de 1969

Soldado Atirador 02001167 Manuel da Silva Ribeiro

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340 (1968/69)
___________________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT




Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69)






História da CART 2340

Actividade das NT

Fevereiro – 1968
Operações:

Amigo Bom

Dia 13 - 2 Grupos de Combate (um Grupo da CART e um Grupo da CCAÇ 3 ), que constituíam o agrupamento III, da referida Operação, deslocaram-se para Jumbembem, onde pernoitaram.

Dia 14 - O agrupamento III, deslocou-se para a antiga povoação de Sare Samba Seidi, situada na margem Leste da Bolanha de Sinchã Mansaroto, onde pernoitaram.

Dia 15 - Às 08h00, por ordem transmitida pelo PCV, o agrupamento III assaltou o acampamento IN de Sinchã Mansaroto.
As NT por falta de experiência iniciaram logo a destruição do acampamento.
O IN emboscado nos arredores do mesmo, contra atacou as NT que destruíam o acampamento, constituído por cerca de 80 casas em 500 metros de extensão.
Só um grupo de combate conseguiu manter ligação com o PCV que pediu o apoio aéreo.
Uma parelha de T-6 veio apoiar o agrupamento que já se encontrava disperso.
Do combate resultou: 10 mortos IN confirmados e outros mortos e feridos prováveis. As NT sofreram 1 morto e 4 feridos africanos (dois soldados e dois carregadores).
O Agrupamento não conseguiu ligação entre os seus grupos dispersos, que retiraram em direcção a Jumbembem. Um dos Grupos permaneceu na zona de acção durante algumas horas, só retirando mais tarde.
Durante a acção um dos comandantes do pelotão e uma praça tentaram arrastar um morto e um dos feridos, no entanto, cansados e perante a ameaça de caírem em poder do IN e por não terem munições foram obrigados a abandoná-los.
As forças constituintes do agrupamento III regressaram no dia seguinte a Canjambari.

Da nossa acção resultou o seguinte:

80 Casas de mato destruídas
5 Cunhetes de munições destruído
3 Metralhadoras pesadas destruídas




Foto 1> Guiné> Canjambari 1968> Ex-Cap Mil Ferreira Neto

Comentário:
Foi a nossa primeira operação. Dias antes fui convocado para Farim, a fim de tomar conhecimento dos planos. O Comandante do Batalhão 1932, ao qual a minha Companhia independente estava agregada, disse-me que a minha Unidade iria tomar parte da operação conjunta com a CART 1691, pelo que eu disponibilizaria dois Grupos de Combate e que iria ser comandada por um dos alferes. Não sei se o Comandante do Batalhão ou outro dos oficiais superiores sugeriu que era melhor ser eu a comandar para ver como era e que além disso o meu pessoal como inexperiente só daria apoio à companhia actuante.

Foi o que aconteceu. Só que quando seguíamos em direcção ao objectivo recebo ordens para atacar umas casas de mato que se encontravam à nossa esquerda. Assim fomos, atacámos, incendiámos. Estando abrigados atrás de montes de baga-baga, eu dizia aos meus homens: - Calma, o pior já passou.
Mas não, o IN como era normal, quando se sentia atacado, abandonava o seu poiso e guarnecia os seus morteiros previamente instalados fora do acampamento e com o tiro regulado para o mesmo. As NT, foram literalmente, dispersas em vários grupos. O meu composto apenas por mim, dois soldados nativos, o soldado clarim, o rádio telefonista e dois carregadores. Para orientação dispus de uma bússola, oferecida pelo meu compadre, que me permitiu atingir Jumbembem.

A realçar, quando atravessávamos uma bolanha, ouvimos via rádio ordem do Major de Operações instalado no avião, que iam bombardear a bolanha, disse ao rádio telefonista: - Avisa que estamos no meio da bolanha.
Resultado só havia comunicação num sentido. Estávamos a pôr pé em terreno seco, quando ouvimos as granadas rebentarem atrás de nós.

O relatório que fiz sobre a Operação não agradou ao Major que me convocou para Farim e disse, que o relatório não justificava a minha acção. Respondi-lhe que relatava a verdade. Depois de troca de impressões pouco amistosas, ofereceu-se para redigir o relatório. Sem comentários.

As nossas relações a partir daí não foram das melhores. Em futuro próximo tentou sem êxito culpar-me de certos fracassos da sua responsabilidade.

Meses mais tarde, soube através do Capitão Miliciano adstrito à Acção Psicológica, de alguns factos que originaram a situação relatada.

Dentro da Acção Psicológica dia 13 ou 14 de Fevereiro, foi detectado o acampamento, que eu ataquei. Foram lançados panfletos convidando o IN a entregar-se pois que a tropa era boa etc. etc.

Resultado o IN, destacou um Bigrupo do Senegal, que fixou por flagelação o pessoal de Jumbembem, passando nas calmas a reforçar o acampamento objecto do meu ataque.

Março – 1969

Dias 25/26 - Na execução da Ordem de Operações n° 6, do COP 3, 2 Grupos de Combate emboscaram o Corredor de Sitató, em Dando Mandinga.

Dia 26 - 09h00, houve contacto com grupo IN, constituído por cerca de 10 elementos. As NT, causaram ao IN um morto confirmado e a apreensão de armamento e documentos.

Factos Importantes:
Dia 24 - Comandante Militar, Chefe dos Serviços de Saúde, uma equipa médica e o Comandante da CART, chegaram Canjambari com o fim de inspeccionarem o pessoal. O resultado da inspecção deu como operacionais 3 oficiais, 4 sargentos e 38 praças.

Comentário:
Antes de ir de licença tive informação de que alguns dos meus soldados urinavam ou evacuavam sangue. Suspeitei do pior, de haver mais atacados pelo mal, mas que por pudor não confessavam. Por isso, formei a Companhia e disse: - Sei que alguns de vós tem estes sintomas e que por vergonha não dizem. Quero também informar-vos que se trata de uma doença que tem cura desde que seja tratada a tempo, portanto quem tem estes sintomas dê um passo em frente.
Logo cerca de meia dúzia o fizeram.
Dei ordem para o furriel de transmissões, enviar para Farim uma mensagem relatando o facto.

Quando regressei de licença, em Bissau tomei conhecimento que uma equipa médica e comando militar se iam deslocar a Canjambari, pelo que integrei essa equipa.

Na reunião havida na Sede da Companhia, foi parecer da equipa médica que os soldados contagiados e provavelmente a maioria da Companhia estariam contaminados pelas águas. (Tinha sido uma época anormalmente seca. O poço que dispunha no aquartelamento tinha secado e a nossa fonte de água era proveniente um poço de grande diâmetro situado fora do perímetro do aquartelamento cheio de animais rastejantes mortos).

Uma das altas patentes militares teve então a ideia de que a água devia ser fervida, respondendo então um dos médicos que tal não poderia ser feito para a água do banho.

Resultado, a Companhia tinha que ser evacuada na quase totalidade para Bissau.

Abril – 1969

Dia 12 - 2 Grupos de Combate emboscaram o Corredor de Sitató em Dando Mandinga com contacto. O IN pôs-se em fuga tendo sido abatido 1 elemento ao qual foram capturados documentos.

Outras acções:
Dia 3 – 1 Grupo de Combate fez e recolha em Canjanbari-Praça duma Companhia de Pára-quedistas que actuou na zona de Canjambari IN.

Factos Importantes:
Dia 2 - Cerca das 19h30, devido a um curto-circuito, manifestou-se um incêndio numa caserna-abrigo que se propagou a um paiol existente no mesmo abrigo, tendo-a destruído completamente.

Comentário:
Tínhamos recebido há poucas horas o municionamento proveniente de Farim.
Foi uma noite autenticamente de S. João. Granadas de bazuca, de morteiro, cartuchos de G3, etc. tudo a ir pelo ar. Ninguém foi ferido. No entanto as viaturas estiveram em perigo, valendo a acção de dois elementos da Companhia para evitar o pior.

Anos mais tarde soube numas das reuniões anuais, que o tal curto-circuito, foi devido a uma churrascada de chouriço, que provocou o incêndio.

No dia seguinte, como atrás descrito, recolhemos os pára-quedistas. Durante a refeição da noite foi-me dito confidencialmente pelo Tenente-Coronel dessa Unidade, que era ideia do Comando Territorial, que eu permaneceria em Canjambari apesar da minha Companhia estar na sua quase totalidade em Nhacra. Ainda mais, os Pára-quedistas seriam os indigitados ou uma Companhia de Comandos, mas que eles se tinham manifestado contra e parece que Spínola aceitou, o que me custa a crer.

Dias depois recebo a visita do General Spínola, que me disse ir mandar abrir um furo artesiano e até construir uma piscina. Perguntei-lhe quando estava previsto reunir-me com os elementos sobreviventes à doença, ao grosso do pessoal que estava em Nhacra.

A resposta foi aquela, que eu já sabia: - Você fica aqui até ao fim da sua missão.
Eu muito inocentemente disse: - Sr. Governador, parece -me lógico reunir-me à Companhia que trouxe da Metrópole.
Ao que ele retorquiu: - Já disse fica aqui nomeado por escolha.
Se eu fosse oficial do Quadro não havia dúvida que ficaria todo babado. Era um Miliciano…

E assim foi. Fui mesmo o último a deixar Canjambari em fins de Junho.

Junho - 1969

Factos Importantes:
A CCAÇ 2533 que veio substituir a CART 2340, em Canjambari, chegou a esta localidade no dia 3 de Junho de 1969, recebendo o Treino Operacional que durou até ao dia 17 de Junho de 1969.

Entretanto o pessoal recuperado recolhia a Nhacra, onde a pouco e pouco se ia integrando na actividade operacional.

A partir do dia 12 de Junho o pessoal da CART, passou a executar a actividade operacional em virtude da companhia que ocupava Nhacra, ter ido ocupar outro sector.

A actividade no sector de Nhacra, foi de moldes diferentes daqueles do sector de Canjambari. Assim todas as operações realizadas foram de carácter rotineiro, sendo de realçar a quantidade de acções realizadas

As patrulhas eram essencialmente de contacto com as populações, visando uma acção psicológica, e a recolha de notícias, pelo que, normalmente um enfermeiro as acompanhava.

As emboscadas tendiam a evitar que pessoal fizesse cambanças ilegais nos rios Geba e Mansoa, e nos caminhos de prováveis infiltrações IN.

NOTAS SOLTAS:
A tabanca de Canjambari era constituída por 6 casas e 80 nativos. A de Jumbembem, maior número de casas e cerca de 400 nativos.

Tive o gosto, numa das primeiras acções de conquistar a população de instalar luz eléctrica nas casas dos homens grandes.


Foto 2> Guiné> Canjambari> Capitão Ferreira Neto parte mantanha com Homem Grande



Foto 3> Guiné> Canjambari> Ferreira Neto com crianças nativas



Foto 4> Guiné> Canjambari> Distribuição de mangos pela população



Foto 5> Guiné Canjambari> Inauguração de furo artesiano. Primeiros clientes


Fotos: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.

Como Capitão sempre fui criticado pelos meus alferes, porque só os avisava no dia de acção.

Quando recebia de Farim, o envelope com o carimbo Secreto, já sabia que ia haver bernarda.

Lia a ordem de operações e era um só preocupado com o que iria acontecer.

E eram os constantes adiamentos das Operações que me mantinham numa expectativa constante e desgastante.

Disse simplesmente aos alferes: - Se eu vos informar, vocês dizem aos furriéis, estes aos soldados, estes ao pessoal da tabanca e estes… Já basta um preocupado.

E a propósito de Operações Militares.
Recebi como de costume o envelope secreto. A Operação Heróis Ilustres marcada, creio, que para Agosto de 1968, resumidamente era qualquer coisa como isto:
Dez grupos de combate, que montariam emboscadas em pontos diferentes e a determinadas horas diferentes. Cada grupo actuaria na sua vez após o bombardeamento (APAR) do objectivo, tomaria de assalto o mesmo e iria emboscar noutro ponto a uma determinada hora.
Isto para os dez grupos com objectivos diferentes movendo-se com capim com dois metros de altura.
Não queria acreditar no que lia, mas que poderia fazer? Como de costume não transmiti aos alferes.
Adiamento sucessivos e entretanto chega a minha vez de entrar de licença. Chamei o alferes Mota, o mais antigo, e mostrei-lhe a ordem de operação.

Exclamação dele: - Meu capitão, isto é de doidos!

Desejei-lhe felicidades e parti.

Não há dúvidas que essa minha licença foi vivida com o que poderia ter acontecido.

Quando regressei estava tudo muito calmo e a minha primeira pergunta foi como tinha corrido a Operação. Então o alferes com a alegria estampada no rosto disse-me que não se tinha realizado.

A causa disse-me, foi o General Spínola ter ido ao comando do Batalhão, e ao ver o plano das operações, o ter rasgado na cara do comandante, dizendo: - Mais uma Operação condenada ao fracasso.

O Alferes Pereira, Comandante do Pelotão Nativo da CCAÇ 3, era um excelente alferes, beirão, pequenino, era adorado pelo seu pessoal. Era ele que guardava o dinheiro e controlava os gastos dos soldados. Isto devia-se sobretudo, aos consumos de cerveja. Tudo corria bem e quando necessário havia os correctivos por parte do alferes que tinha de saltar para chegar à cara do prevaricador que sempre aceitava o correctivo por estar de acordo com o seu sentido de justiça.

O Pereira termina a sua comissão e é substituído por outro alferes ao qual recomendei que procedesse da mesma forma. Tal não aconteceu, e comecei a ter problemas devido às bebedeiras frequentes que o pessoal nativo tomava. Decidi que o cabo cantineiro tomasse nota das garrafas consumidas (67 cl). Para meu espanto verifiquei que o consumo médio era de nove garrafas por soldado. Quer dizer que havia alguns que superavam aquele número.

Quero referir-me também ao nativo da tabanca de nome Sori.

Este fula-forro, tinha um carácter muito inventivo, de tal forma que tomou a iniciativa de fazer na sua casa um dispositivo anti-morteiro, o seu telhado era constituído por uma caixa cheia de areia. Era o único da sua etnia e muito invejado pelo restante pessoal da tabanca.

Outro lado, era a nobreza do seu carácter. Certo dia, apareceu-me fazendo queixa de um soldado-auto, que lhe tinha morto uma galinha com a viatura. Disse-lhe: - Não te importes Sori, que o soldado paga-te a galinha. Ao que ele respondeu: - Capitão, não é pela galinha, mas sim pela forma que o soldado me tratou.
Chamei o soldado obrigando-o a pedir desculpas e pagar a galinha.

Em 10 de Setembro de 1968 a 15.ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem, no mês seguinte a 7 de Outubro, foi considerada inoperacional.

Em 2 de Novembro a 16.ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem. Cerca de um mês depois queriam também considerar-se inoperacionais. Só que desta vez o Comandante do Batalhão se impôs, dizendo que tinha uma companhia com 13 meses, outra com 11 meses e outra com 7 meses e nunca foram consideradas inoperacionais com a mesma actividade operacional dos Comandos. De relevar que as referidas Companhias de Comandos tinham alimentos frescos quando necessitavam e fornecidos via aérea e nós as outras uma vez por mês, via terrestre.

Era norma antes do embarque fazer as análises. Devido às demoras que normalmente se verificavam entre estas e o embarque era como certo muitos voltarem a serem infestados por parasitas.

Tal facto levou as chefias a procederem às referidas análises após o embarque. No Uige tínhamos um Capitão Médico que chefiava a correspondente equipa. Estas análises eram as rotineiras e tal como se faziam em terra.

Contactei o médico citado e relatei-lhe o que sucedera à minha Companhia. Em boa hora o fiz, porquanto o médico me disse que tais análises não estavam previstas.

Aconselhou-me a fazer pular o meu pessoal, antes da recolha da urina, pois que, se tornava necessário fazer soltar os vermes que se alojavam na parede interna da bexiga.

Assim procedi, e coloquei o pessoal aos pulos na coberta do navio, tal como uma dança guerreira índia. Eu próprio, no meu camarote, fiz uma sessão de pulos.

Resultado. Detectados cinco casos de contaminação.

Haveria mais histórias para contar, pequenas histórias, no entanto relevantes para o enriquecimento do carácter de quem as viveu.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
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Notas do co-editor CV:

Vd. Post de 30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

Vd. Post de 1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga